Maurício Galindo

Minha mãe conta que, desde que eu era um bebé, só dormia se ela colocasse um disco na “vitrola” – como era chamado, nos anos 60, o gira-discos. Assim, quando me dei por gente, já ouvia música.

Na minha infância, estudei sempre em escola pública, onde cantávamos todos os dias. 

Isso era herança de um grande projeto de canto orfeônico que Heitor Villa-Lobos conheceu em França nos anos 20 e conseguiu implantar no Brasil logo no início dos anos 30. Essa foi o minha iniciação musical.

Para mim era fascinante. Adorava chegar à escola e cantar. A gente cantava todos os dias três, quatro músicas do folclore brasileiro, que, aliás, tem muita coisa do folclore português.

Tive de superar uma educação musical que, embora tenha começado cedo, nunca foi pensada para fazer de mim um músico profissional.

Na adolescência interessei-me por música popular e fui estudar jazz. Comecei a ter aulas de guitarra neste contexto jazzístico, não de música clássica.

As aulas de guitarra e jazz eram muito sérias. Tive sorte na escolha do professor, que era muito firme e dedicado. Para além do instrumento, me ensinou muitas coisas mais, como solfejo e harmonia.

Um dia, quando eu já estava a tocar guitarra razoavelmente bem, um colega me disse que em São Paulo estavam começando um projeto semelhante ao “El Sistema”, da Venezuela [modelo didático musical, idealizado e criado na Venezuela por José Antonio Abreu]. Fui averiguar. Queria experimentar como era aprender um instrumento de orquestra, embora já fosse meio tarde para isso.

Mas novamente pus-me sob a tutela de um professor de altíssimo nível. Com a boa base que tinha, desenvolvi-me rápido. Assim, em um ano eu já tocava na Orquestra Sinfônica Jovem da Cidade de São Paulo.

Aos 18 anos ingressei no Curso de Bacharelato de Música na UNESP, Universidade Estadual Paulista. Queria ser compositor.

Comecei a conviver com gente de altíssimo nível. Inclusive, tínhamos três professores franceses que vieram fundar o departamento de música da escola. Fui aluno do compositor Michel Philippot e do musicólogo francês Roger Cotte. Eram professores incríveis. Foi um salto de qualidade muito grande.

Aos 24 anos ingressei na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. O regente era Eleazar de Carvalho, homem de métodos rigorosos, muito disciplinado, formado sob a tutela de Serguei Koussevitzky em Boston. Aprendi muito com ele. 

Informalmente, foi meu professor de direção de orquestra.

Além de tocar na orquestra, dava aulas e comecei a reger uma orquestra de cordas de estudantes. Foi isso que acabou por me levar à regência, onde muitas oportunidades preciosas me foram oferecidas.

Desisti da composição e aceitei – com muita satisfação - que o que o destino me colocara à frente era a profissão de maestro.

É o que faço até hoje.